Manifesto Artivista

Manifesto artivista: 
Por um manual do guerrilheiro artístico

I. Nós somos ARTIVISTAS. Nós somos contra-arte num período onde a arte luta contra si própria, somos contra a arte exibicionista que caminha para o silêncio, a anulação, somos contra a arte de caprichos, de limite pelo limite, sem urgência. Contra a arte que não quer ser, sendo. Porque é necessário querer. Já passámos a fase da arte de brinquedo, porque  já não somos crianças, nem nos deixam ser. O mundo matou a infância, sufocou-a na descrença, no roubar dos sonhos. Queremos uma arte de impossíveis. Não nos podem continuar a limitar e esperarem que fiquemos calados, que continuemos a fazer arte de brinquedo, arte pela arte. Nós queremos arte pelo mundo, por nós,  pela interrogação constante, a evolução do intelecto,  do Eu, a consciência activa, pelo agitar das cabeças e dos corpos. Falo de liberdade de pensamento e expressão.

II. Nós somos contra-actores, contra actores que não o querem ser sendo, contra todos aqueles que usam a arte para massagem do ego e não aspiram  a mais do que um exercício elitista. Contra artistas que tentam definir o que o público deve ou não ver,  o que é ou não interessante de existir, que reivindicam verdades universais. Contra os artistas que se acham no direito de tomar para si a liberdade de escolha e pensamento do outro. É preciso um teatro do respeito pelo outro e só assim é possível a aproximação, a união.

III. Nós somos pelo activista actor, performer, artista. Pela intervenção mais do que na sociedade, nas consciências humanas. Queremos ser o traço mnésico da nova geração, não de artistas, de pessoas. Quanto ao que se faz em teatro em Portugal, estamos com eles e contra-eles, estamos convosco, com todos aqueles que lutam e querem liberdade de pensamento, de consciência, de estar a favor ou contra nós. Repudiamos os que ficam no meio-termo. Chega de meio-termo.

IV. Não somos radicais, nós reivindicamos a liberdade de expressão e o acesso geral à cultura. É a nossa intervenção no mundo. Chegámos a um período onde quase tudo é possível em cena, senão tudo, onde teatro se faz sem actores. Não acredito num teatro sem actores, tal como não acredito numa sociedade sem homens. Chegou o momento de parar de brincar à contra-arte sem utilidade, à artinha. Se for para fazer, faz-se. Chegou o momento de acabar com a separação entre artes, performance e teatro. É altura de reagir com todas as armas das quais a arte dispõe.

V. A união é necessária entre as artes e os teatros, uma união ideológica, estética. Temos de parar com as manias e os egos em decadência que opõe teatros e opõem artes. Manifestamo-nos contra a ideia de um teatro que se pode acantonar num único género e se traduzir num único modelo. A condição da nossa arte é o activismo e este necessita de união. Unir para conquistar é o nosso objectivo. Uma união com liberdade para se manifestar de várias formas, através de várias estéticas, linguagens e conceptualizações. A evolução humana nasce aqui, na união de diferentes. A diferença pela igualdade.

VI. Reivindicamos um teatro vivo, um teatro da descoberta diária e da anti-estrutura. Manifestamo-nos contra todo o tipo de teatro morto que insiste em definir como o drama deve ser representado e contra todo o teatro contemporâneo que lhe segue o passo. Manifestamo-nos contra o estilo, contra a Academia e contra a transformação dos clássicos em antiquários, tal como contra a imposição de um modelo,  seja ele contemporâneo ou não. Queremos um teatro assente no presente, de autores e/ou temas contemporâneos, mas que não nos limite nem discrimine. Uma arte do querer. É urgente uma arte cuja criação parta do contingente para o geral e cuja recepção se dê do geral para o particular.

VII. Temos de dar esperança aos nossos jovens, às futuras gerações de jovens pensadores, visionários. É urgente voltar ao pensamento, ou antes, é urgente um pensamento, o questionar constante. Pela liberdade de pensamento e de expressão. Pela liberdade de acção, porque a consciência é a primeira forma de intervenção na sociedade e está ao acesso de todos. Pela liberdade de consciências! Pela liberdade das almas! Pela liberdade dos corpos! E principalmente pela liberdade de união!

VIII. Somos idealistas, mas não de cabeceira, tornamos os nossos ideais activos. Somos contra a guerra e a opressão física, psicológica, ideológica ou qualquer outra. Não fazemos política, somos artistas sem medo de pensar e desafiar o país e o mundo a pensar . Nós não temos medo. O medo ficou atrás, já ultrapassámos a pequena política e a pequenez social. Somos parte da sociedade, recusamo-nos a sermos subjugados por ela. Queremos ser ouvidos, escutados, olhados, vistos, reparados. Nós falamos por quem não tem voz ou tem medo de ser livre, ou não lhe foi dado conhecimento de que pode ser, de que pode pensar, de que pode ser consciente, de que pode ser livre, porque só uma pessoa culta é verdadeiramente livre.

IX. Nós reivindicamos o regresso dos sonhos e das esperanças nas algibeiras.

X. Não queremos mudar o mundo. Estamos a mudar o mundo. Fazemo-lo aqui e agora, fazemo-lo através da palavra, da arte. Estamos juntos hoje num mundo onde a união é decadente e os valores esmorecem. Que aqui ninguém se julgue. Que aqui ninguém estremeça. Que aqui nos ignorem ou nos sigam, porque um dia ainda nos soltaremos destas inglórias amarras e convosco fundaremos um império com palavras.





ADERIR AO MOVIMENTO
Para subscrever o Manifesto Artivista envie-nos o seu nome, profissão e localidade de residência para: vidasdeaaz@gmail.com

Subscrições (dirigido a artistas):


i. Mónica Sofia Raposo Gomes (Promotora, empresária, produtora, encenadora, dramaturga e actriz)
ii. Sílvia Alexandra Raposo Gomes (Antropóloga, produtora, dramaturga, sonoplasta e actriz)


Nota: A subscrição implica a concordância com o conteúdo do manifesto, bem como a abertura para participação em iniciativas organizadas pelo movimento na justa promoção e defesa dos seus ideais.

(Petição dirigida aos artistas - por criar: http://www.peticaopublica.com/pcreate.aspx)



PROJECTOS ASSOCIADOS


EU SOU MEDITERRÂNEO: Um espectáculo sobre a banalidade do mal (Drama cómico)

Sinopse: Eu não pertenço a nenhuma das gerações revolucionárias. Eu pertenço a uma geração construtiva. (Eça de Queirós)
Nós somos a voz dos ecos sociais e literários da realidade contemporânea. Nós somos canibais e eis a nossa dramaturgia canibalista. Nela jaz a cisão entre um Ocidente civilizado e um Islão bárbaro. Nela jaz a estatística da miséria. Nela jazem as crianças cuja vida é roubada na faixa de Gaza. Nela jaz a Fome, a Guerra, o Sofrimento e o Desespero. Nela jaz a ignorância generalizada em relação ao Islão. Nela jazem as Guerras do Médio Oriente que o Ocidente apoia militarmente e cujas mortes alicerçam a economia mundial. Nela jazem os atentados contra os Direitos Humanos e a chacina em massa de civis. Nela jaz a maior crise migratória e humanitária da Europa. Nela jazem as perseguições pelos jihadistas. Nela jaz o riso, a hipoteca da vida. Uma ficção, um facto e um manifesto artivista. Nós somos um não-lugar, fragmentos de culturas dissonantes. Eu sou o morto. Eu sou mediterrâneo. Um espectáculo sobre a banalidade do mal…

Associações parceiras e de apoio à divulgação: ADDUH (Associação de Defesa dos Direitos Humanos), Associação Gulliver, Associação Solidariedade Imigrante, Associação Amizade Sahara Ocidental, Turismo de Portugal e Festas de Lisboa. 

Locais de apresentação: (ver agenda)


ARQUIVO DE VÍDEO
O espaço abaixo constitui-se como o nosso arquivo de documentação performativa política.

Manifestação Artivista a 21/11/2015

Encabeçada pela Companhia VIDAS DE A a Z na Baixa lisboeta promovendo o combate ao terrorismo através da Cultura, como resposta à mediatização em torno dos atentados em Paris. 



Argumento associado à manifestação:

Combater o terror com a Cultura, como referia o primeiro ministro italiano "Eles destroem estátuas, nós amamos a arte. Eles destroem livros, nós somos o país das livrarias". A Cultura como arma ideológica, pois só uma pessoa culta é verdadeiramente livre. Je suis contra a Guerra. Je suis Médio Oriente. Je suis França. Je suis Iêmen, Je suis Nova Rússia, Je suis Afeganistão, Je suis República Centro-Africana, Mali, Iraque e Líbia. Je suis Ucrânia, Je suis Síria, Je suis Sudão, Je suis Paquistão, Nigéria, Argélia, Palestina, Israel e Suécia. Je suis Filipinas, Je suis Somália, Je suis Tailândia, India e Brasil. Je suis pelo desarmamento. Je suis pela PAZ! E Je suis pela CULTURA!

"A cultura é uma muleta com que o coxo bate no são para mostrar que também a ele não faltam as forças." (Karl Kraus)

Artistas evolvidos na manifestação artivista: Mónica Gomes, Sílvia Raposo, Margarida Camacho, Edevânia Mateus, Anabela Pires e Sofia Assis.